França decreta fim de 4% dos vinhedos para salvar setor vinícola em crise
- Emery William
- 8 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Com consumo de vinho em queda, governo francês destina 120 milhões de euros para reduzir produção e evitar colapso de preços no mercado
A França anunciou um plano ousado para enfrentar a crise que atinge o setor vinícola do país. Na última sexta-feira (4), o Ministério da Agricultura francês informou que usará 120 milhões de euros (equivalente a cerca de R$ 719 milhões na cotação de 7 de outubro) oriundos de fundos da União Europeia para reduzir em 4% a área de produção de vinho no território francês. A medida faz parte de uma estratégia mais ampla para equilibrar a oferta e a demanda, uma vez que o consumo de vinho tem caído de forma significativa nos últimos anos.
O setor vinícola francês, um dos mais prestigiados e tradicionais do mundo, enfrenta desafios sem precedentes. Além da queda no consumo, os produtores estão lidando com o aumento da concorrência internacional, especialmente de vinhos mais baratos vindos de países como Espanha, Itália e até mesmo da América do Sul. A combinação desses fatores tem pressionado os preços, ameaçando a sustentabilidade econômica de muitas vinícolas.
Com essa intervenção, o governo francês espera evitar uma queda ainda maior nos preços do vinho, mantendo um equilíbrio no mercado. "Se continuarmos a produzir em excesso, o preço do vinho vai cair ainda mais, afetando toda a cadeia de produção", afirmou o Ministro da Agricultura, Marc Fesneau, durante o anúncio da medida. A estratégia de reduzir a produção visa proteger os produtores e evitar que a crise se agrave ainda mais.
Os 120 milhões de euros serão utilizados para subsidiar a remoção de vinhedos, oferecendo uma compensação financeira aos produtores que decidirem erradicar parte de suas plantações. A expectativa é de que essa redução voluntária ajude a estabilizar o mercado e impeça que os preços continuem a despencar. As áreas afetadas pela medida serão, em sua maioria, aquelas onde o excesso de produção é mais crítico e onde a demanda tem diminuído de forma mais acentuada.
Além da redução da oferta, o governo francês também está investindo em campanhas para diversificar o mercado do vinho e modernizar a produção. O objetivo é atrair novos consumidores, especialmente entre as gerações mais jovens, que têm mostrado uma preferência maior por outras bebidas, como cervejas artesanais e destilados. Iniciativas para promover o vinho francês em mercados estrangeiros, como a Ásia e os Estados Unidos, também estão sendo reforçadas.
Essa não é a primeira vez que o governo francês intervém no setor vinícola. Nos últimos anos, o país já havia adotado outras medidas para enfrentar crises semelhantes, como a destilação de vinho excedente para produção de álcool industrial e a promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis. No entanto, a atual crise tem se mostrado mais difícil de combater, devido às mudanças globais no comportamento dos consumidores e às pressões econômicas que afetam diversos setores.
Os produtores, por sua vez, estão divididos quanto à nova medida. Enquanto alguns acreditam que a redução da oferta é essencial para manter o mercado viável, outros temem que essa intervenção possa prejudicar ainda mais o setor a longo prazo, especialmente se a demanda não se recuperar. “Estamos em um momento crítico. Precisamos de soluções mais profundas, não apenas de cortes de produção”, disse um viticultor da região de Bordeaux.
A França continua sendo o segundo maior produtor de vinho do mundo, perdendo apenas para a Itália. No entanto, o cenário de crise pode impactar profundamente a posição de destaque do país no mercado global. Ao reduzir a oferta e promover uma gestão mais eficiente da produção, o governo francês espera que o setor possa se adaptar às novas realidades do mercado e continuar prosperando, mesmo em um cenário de consumo mais contido.
Essa estratégia de controle de oferta é um reflexo da importância do setor vinícola para a economia e a cultura da França. O vinho não é apenas um produto agrícola; ele está intrinsecamente ligado à identidade do país. Portanto, proteger o mercado vinícola é também preservar uma parte essencial do patrimônio cultural francês.
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